terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Morte morrida - a começar pela partida

Sensação. Uma fantasia, máscara de desejo. Ninguém afinal consegue mascarar o segredo, há magia nesse teu olhar. Seus lábios apresentam perigo, medo de me entregar. Diz que á desejos ínfimos não deve se entregar. E a seus beijos, amor, deixa lhe um recado. Quando o peito inflar e não couber nada além de amor voltarei eu. E assim então tomo a taça do veneno que é esse teu amor. Deixo-lhe que me mate aos pequenos. Que me ame em ato de ódio assim, aos bocados. Que seus beijos de amor sejam todos amargos.
Que teu peito sob luz de uma lua crescente infle um desejo devorador. Não há cuidado, não há porque não se entregar. Há mil e um por hora. Se quiser, pode me machucar. Afinal, não há amor. E que nossos beijos encham uma saudade que durará uma vida. Que nos meus últimos minutos, quando enfim vier minha hora, esteja eu dentro de ti, e de mim não sairá nada para ti. O tão esperado momento de gozo se transpusera em uma morte que se tornará amor.
Tu, então, vês; meus lábios ainda quentes do teu calor e me beijas pela última vez. E que diga a todos: morri de amor! E você ao ver que ainda dentro de ti estou percebe que de lá nunca sairei, pois minh’alma dentro de ti morreu. E por ali permanecerá. E verás que nesse ato surge-se um amor. Correspondido tarde de mais. Das nossas tardes só restará saudade. E a lembrança, de um quase-beijo que tudo começara. Despertar de um desejo. Um mero desejo, que não sabes tu, mas futuramente irá em ti penetrar e te devorará a começar por dentro, onde dói mais.
 E que morrerás aos bocados, de amor por mim. Que pra sempre estarei dentro de ti. Te devorando num amor louco e insano. Tu chorarás desejo e morrerás ainda encima de mim, num nosso perfeito e último primeiro beijo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Nua em dia de lua

A gente já se amou tantas vezes
Em corpos diferente, um amor
Você ja me olhou de tanta gente
E nunca se cala, esse amor
E num só calor, uma cama
A gente rola no suor e deita
Você já me beijou tantas vezes
E o primeiro beijo jamais voltou

E o beijo que te dei de presente
Você não retribuiu nem devolveu
Robou-o para si e prometeu
Aos poucos me devorar, enlouquecer
Que faço eu da vida, então, essa loucura
De ser comida a cada dia pelo amor
De noite até não sobrar de mim
Uma só gota de suor, um pavor
E não sobra sentimento, nem suor
Você enlouquecido levou tudo
Tudo de mim, robou-me o mundo

E sobra eu na cama; eu, a cama, o suor
Os lençois amarrotados e revirados
Que sugerem um ato feito, em noite clara
O sol claro já desperta, vejo da janela
Um jardim, e de lá, ninguém vê a mim
Nua, mas encoberta de suor e pesar
Desfilo pelo corredor a procurar
Água, porque já estou tão seca

Bebi tanta água que a virei
Desci em lágrimas, eu e minha tristeza
Me derramei no chão, sem dó nem piedade
E assim, em lágrimas, escorri
Desci logo pelo ralo e me escondi
Sou agora só mais um bocado d'água
E assim se encerra a história

domingo, 10 de janeiro de 2010

Brincar de amor

Vamo brincar de amor?
Começa assim, só me olha
Lá de longe, de cantinho
Ora ou outra me esbarra
Mexe com meu mundinho
Encosta em mim, assim
E leva de mim um pedaço
Faz pra você um baraquinho
E cutuca ali um coração
Já, já baterá forte
Chegará um ponto
Que a gente vai se olhar
E vai ser inevitável
A gente vai se achegar
Só que a gente ainda
Não vai entender
E não vai saber
O que fazer? Sei lá
A gente vai se encontrar
E a cada vez mais
As faces escancarão
Os rostos, cada vez mais
se colarão, lábio a lábio
O desejo é incontrolável
E não há porque lutar
A gente vai se amar

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Tá difícil

Tava reparando meu msn esses dias. Tem muito contato com quem eu não falo já tem muito tempo. Muita gente que não vou nem ter tempo de lembrar ano que vem esse ano (mal hábito). Gente da oitava, gente querida mas não gente que vai ficar. Gente que é amiga, que me fez raiva, me fez chorar, mas é amiga. Gente com quem eu não quero mais conversar mas também não quero me desfazer. Assunto não tem mais, não tem o que se prolongar. Mas não dá pra deletar (porque bloquear nunca!). Mesmo se tivesse me magoado profundamente, eu não consigo. Mesmo que seja uma puta pessoa comigo, não consigo. Eu amo. Sempre amei coisas que não me fazem bem. Mas o que faz bem nessa vida, ne? E porque tudo tem que se refletir em bem o tempo todo? Deixa eu ser maliciosa, é instinto, é natureza porque não posso? Se os tigres caçam porque uma moça-mulher-maria como eu não pode? Deixa eu rugir, mesmo que não for de natureza, porque é da minha cabeça mesmo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ela e o mendigo

Ela é. Era. Não é mais. Ou jamais foi, pois dizem que o que é jamais deixa de ser. Talvez seja apenas um projeto de ser. Não importa. Já não é mais.
E foi assim. Ela era, se sentia ser. Mas o mendigo também sentia.Ele também era. O mendigo? Não ele não era. Não havia como ele ser. Porque deveria ser? Não, ele não era.
Mas se ele não podia, o que ela tinha que a fez poder? O que a faz poder? Não pode, apenas é. Mas será que era mesmo? Ela era. Ele não. Ela é. Ele não. Ela será. Ele já foi. Então quer dizer que ele já foi? Ou melhor, já era? É?
Mas o que ele teria que ela não tem? Ela tem tudo. Ele tem a falta de tudo. Bem, tirando o falta - que na integra não passa de nada - ele tem tudo. É gente como qualquer gente. Sonha como qualquer gente. Acorda no pesadelo da vida como toda gente.
E então. Ela era. Ele também. Ela é. Ele também. Ela não compreendeu mais nada. Como ela e o mendigo poderiam ser? Tentou entender, mas não podia, não é mais. Quem tenta entender não é. Ele não tenta. Ela que era, não é. Ele que nunca foi. É.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ela

E todo dia, ou melhor, noite. Na mesmice de cada dia, na hora noturna e fria ele vem. Ela sente toda noite sua companhia amarga. Tanta amargura numa boca só que chega a ter vertigens e sentir um cheiro doce. Acontece que não sente mais cheiro algum, perdeu o gosto de respirar fundo e sentir o cheiro da vida. Quantas vezes não respirou podridão?
Então respira só. Respira por mais um minuto de vida. Respira sem se sentir digna de vida e mais logo transpira, é medo, medo de quando ele vem, toda a noite. E medo de ele não vir. Se não ele, quem virá? Se não vier a solidão, quem virá invadir suas noites? Será que é ela?
Ela que interrompe sem licença, desculpa ou educação. Será a próxima a visitar seu quarto à noite? Não sabe, e também e não deseja saber. Desejos? Aspirações? Ela não se lembrava mais o sabor disso. Só respira para viver o próximo minuto.
Levantou-se, só para viver o próximo minuto. Passou o café, no velho filtro de pano, na velha garrafa de café, velha xícara já trincada e ressecada, que a incomodava. Pensou se deveria ou não comprar uma nova. Largou o pensamento pra lá. Pra que pensar?
Liga o rádio a pilha na cozinha pra se ouvir menos, não para ouvi-lo. Liga a volume médio, bem assim, como todo dia, na mesma estação que anuncia as mesmas notícias, catástrofes, acidentes, assassinatos, sofrimento. E às vezes mais tarde uma mensagem ou música bonita que alegre o espírito.
Pensa se um dia aquilo irá mudar. Por que iria? Esta tudo bem, tudo nos conformes. Todos estão bem, tirando os desafortunados por natureza, ou por cruel escolha do destino. Porque haveria de mudar? Está tudo ali, seu café passado de manhã, adocicado e sem cheiro. O ar de cada minuto e o companheiro de todas as noites.
E quando estiver assim, chegando um dia ao fim. Meio morta, meio viva, bate um dia a sua porta. Ela vem. E ela se pergunte se é o fim. Fim do que? Afinal, o que se foi?