quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

E se tudo fosse diferente? - Capítulo 4

A pedido do meu querido - e também odiado - amigo anônimo estou postando o 4º capítulo. :] Perdi metade do 7º capítulo por causa dele. u.u Lembrando que quem quiser ler desde o começo clique no marcador E se tudo fosse diferente?

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Me contaram mais tarde que cerca de uns 10 minutos após terem me tirado do carro eu simplesmente apaguei. “Um desmaio repentino”, disseram. Me chamaram de sortuda muitas vezes, pois “por um milagre de Deus” – como disseram – eu só havia tido um corte no rosto por causa de um caco de vidro que fora arremessado no meu rosto quando os carros bateram . Iria render uma cicatriz para o resto da vida, nada a se reclamar. Eu não tinha nem sequer quebrado nada no acidente.

Fomos levados para o hospital. Ambos estávamos desacordados. Preferiram me deixar dormindo a ver meu pai sento tirado das ferragens. Ao chegar no hospital tive que fazer alguns exames, suspeitavam que podia ter havido alguma pancada na cabeça, mas não houve nada. Realmente, eu era muito sortuda – era o que me diziam o tempo todo.

Havia uma movimentação excessiva de pessoas para lá e para cá. Minha cabeça latejava de tanta dor, as dores pareciam a marcação de uma música bem eletrônica “Tum tum tum tum”. Mesmo com toda aquela dor eu resolvi fingir estar bem em todas as vezes que me perguntaram se precisava de alguma coisa ou se estava bem. “Estou bem, muito bem comparado a ele”, pensava em todas as vezes e olhava para o fim dor corredor como se aquilo fosse me dar uma resposta.

Então tomei a coragem, me levantei e me aproximei de uma enfermeira e tive coragem de perguntar o que há muito me intrigava:

_Como ele está..? – minha voz soava fraca como nunca na minha vida.

A enfermeira me abraçou, não me lembro de terem me abraçado de tal maneira duas vezes na vida. O abraço parecia carregar pena e um ressentimento tão grande que parecia inacreditável. Foi então que a verdade tocou aos meus ouvidos pela primeira vez com um sussurro:

_Ele faleceu há algumas horas – e então deu uma pausa para um suspiro – Sinto muito...

Já se sentiu como se fosse um vidro bem fino e te chutasse com uma bota bem grossa com uma violência totalmente desnecessária? Foi assim que me senti. Eu não chorei. Não naquela hora. Eu sabia que chorar não ia mudar nada, eu estava há quilômetros de casa, talvez minha mãe não tivesse ideia do que aconteceu. “Céus, será que minha mãe já sabe?”, pensei abalada.

_Que horas são? – perguntei para a enfermeira que estava se ocupando olhando alguma ficha.

_Já passa das onze horas, são onze e quarenta. – respondeu depois de olhar para o relógio de pulso bastante bonito que tinha.

_Isso tudo? Como pode? – me perdi por uns instantes – Eu já devia ter chegada em casa há umas duas horas. – disse colocando em voz pensamentos – Informaram a minha mãe? A esposa dele...? – doeu muito falar dele, foi como se algo tivesse entalado.

_Sim, mas não sei muito sobre.

_Meu celular... onde ele ta? – dizia para mim mesma – Ah sim! Na minha bolsa. – e me virei novamente para a enfermeira – Minha bolsa, ela tava no carro, sabe onde está?

_Uma vermelha, certo?

_Sim, ela mesmo.

_Tá aqui, pediram para te entregar quando estivesse melhor – e a pegou atrás do balcão e deu-me a em minhas mãos.

Assim que peguei a bolsa abri a e comecei a procurar desesperadamente pelo celular. “Bolsa horrível, sempre uma dificuldade para achar qualquer coisa”, praguejei comigo mesma. Finalmente o achei, imediatamente liguei para o número de casa. Não atendia.

_Droga! Não atende. Pra onde que eu ligo?

Me esforcei por alguns momentos pensando. Minha mãe não tinha celular, meus avós de nada ajudariam por serem todos bastante derrubados pela idade. Só havia números de tias da família da minha mãe, que de nada poderiam me ajudar aqui em Belo Horizonte. Me desesperei, comecei a chorar. Me encostei na parece e fui tomada por uma fraqueza gigantesca. O que eu ainda estou fazendo aqui no hospital afinal?

_Moça, eu não sou daqui, não conheço ninguém aqui. Não faço idéia de onde está minha mãe. Não faço idéia do que faço. Não tenho dinheiro algum e não sei andar pela cidade, não sei o que faço.

_Calma, minha querida – ela tornou a me abraçar - Me disseram que estão vindo te buscar. É um pouco longe daqui, não é? – ela tirou meu cabelo do rosto, olhando em meus olhos – acho que ainda vai demorar algumas horas. Senta-te um pouco e descansa, está com fome?

Foi quando percebi que não comia há bastantes horas, mas não queria nem imaginar na possibilidade de mastigar e engolir coisa alguma, parecia muito desgastante.

_Não estou com fome. Estou com sede, pode me dar algo pra beber?

Ela me deu um pouco de café e ajudou me a me sentar em um lugar quieto na sala de espera. Eu odiava café, mas não quis falar. Eu nunca tinha tomado café mais do que uma vez na vida, que foi quando experimentei e passei por então a odiar. Mesmo odiando tomei, não sei porquê, aquela noite café não tinha um gosto assim tão ruim para mim.

Fiquei nervosa por algum tempo, esperar nunca foi meu forte. Comecei a mexer em algumas coisas na minha bolsa somente para me sentir ocupada. Logo me veio um calor, e resolvi prender o cabelo com um rabo. Quando fui levar as mãos ao cabelo sem querer esbarrei na bochecha e senti uma pontada de dor. Comecei a apalpar, “o que era aquilo?”

Foi aí que lembrei do sangue que estava a me escorrer na face há algumas horas... quando tudo aconteceu. Céus, eu não conseguia acreditar que aquilo era real. Parecia tudo uma brincadeira tola.

Virei a cabeça para o teto e me deixei levar pelo enorme cansaço. Nada havia que eu pudesse fazer.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

E se tudo fosse diferente? - Capítulo 3

Acho que não tenho muito a comentar. Esse capítulo foi bastante triste pra mim. x.x
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_Terminamos tudo, Carol. – disse meu pai com um sorriso no rosto – já ta tudo arrumado no carro, já compramos tudo, vamos voltar pra Fabriciano agora – ele falava se sentindo bem por ter terminado mais uma vez todo aquele trabalho exaustivo.
Eu estava exausta, e ainda eram umas quatro horas da tarde, acordada desde as três da madrugada, andando feito louca pelo centro da capital desde as sete da manhã. Meus pés doíam, parecia que ia despencar em cada próximo passo. O que mais me intrigava é que meu pai, mais velho do que eu, estava acordado há muito mais tempo do que eu, fazendo muito mais esforço do que eu, e não apresentava nenhum cansaço. Em momento algum ele deixou transparecer fraqueza.
Lá estávamos nós saindo da garagem da última loja do dia quando tudo aconteceu.
_Aqui é perigoso demais de sair. Tem que sair sem ver nada, tem que dar – suas palavras foram interrompidas naquele instante.
Eu não estava vendo naquele momento, estava olhando pela janela para uma coisa qualquer na rua, eu já estava bastante acostumada com ele sempre reclamando dos perigos. Muitas vezes já tinha me preocupado com eles, mas eu prefiro simplesmente ignorar e arriscar, “evita rugas”, como penso.
Com o baque ensurdecedor eu me virei assustada para direção do som tentando entender a fonte de algo tão... eu não fazia idéia de como descrever aquilo, simplesmente entrei em choque.
Senti uma pontada de dor no rosto e senti algo quente a escorrer por ele, era sangue. Eu não consegui nem ao menos levar a mão ao rosto para verificar o estrago, eu estava paralisada com a imagem a minha frente. Meu pai, aquele que me criava já há 14 anos, aquele que... ele era meu pai. Meu pai. Não acho que deva ser feita mais alguma descrição. Era meu pai.
Eu não conseguia acreditar que aquela pessoa ao meu lado, ensanguentada, esmagada por ferragens e pelo caminhão que estava a descer a rua e não vira o carro discretamente saindo da garagem. Ele já não parecia mais ter vida. Eu estava em choque a observar aquilo, não conseguia nem sequer gritar, chorar, berrar, clamar por meu pai. Eu estava paralisada a observar a cena de alguém que a menos de um minuto atrás estava conversando naturalmente.
Eu não sei detalhadamente o que aconteceu, só sei que alguém abriu a porta e falou algumas coisas comigo, eu não conseguia entender nada, a cena a minha frente ainda me intrigava. As mãos quentes daquela pessoa pegaram firmemente – mas também muito delicadamente – o meu rosto e virou-o para si. Ele disse mais algumas palavras e acabou por me erguer do acento me ajudando a sair do carro. Eu não havia entendido nada que ele tinha dito, nem do que ele havia feito, eu ainda queria encarar aquela cena.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Necessidade

Escrevi por total necessidade de escrever. Eu me senti, sei lá, sugada pela vontade e percebi que não ficaria quieta até escrever. Resolvi ser um poema, ficou horrível, eu sei. Ficou bastante vazio, normalmente meus poemas são melhores. Mas hoje ele foi... necessário.


Necessidade

Palavras

Podem magoar,

Podem ferir,

Podem salvar.


Pressão

Já não sei se vou agüentar

É muito peso sobre mim

Me ajuda a carregar?


Olhar

É o mais sedutor

O mais ameaçador

A janela da alma.

Chantagens

Colocar a espreita


Forçar

E no final, ganhar.

Promessas

São esquecidas

As vezes cumpridas

Outras quebradas.


Esquecer

As vezes não é nada fácil

A memória volta

Sempre, infernalmente.


Dores

As vezes matam

Outras, na verdade curam

São todas relativas.


Erros

Crucificam

Mutilam, são fatais

Quando há julgamento e mão a matar.


Desculpas

Redenção, perdão

A humildade

Concede-me perdão?


Meu erro foi amar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

E se tudo fosse diferent? - Capítulo 2

Bem que eu queria postar outra coisa, to com vontade de escrever um poema mas nem consegui inspiração. Resolvi postar o 2º capítulo mesmo, já que tem gente que tá curiosa. Obrigada pelos comentários, peço que continuem comentando, me anima a escrever. :]

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Nada de diferente. Até as histórias pareciam as mesmas, comentário sobre as cidades que passávamos, reclamações sobre o estado da estrada, a diferença é que dessa vez eu estava mais desligada para aquilo tudo do que sempre, respondia algumas vezes quando prestava atenção com poucas palavras e em outras vezes fazia perguntas que muitas vezes já sabia ou imaginava resposta. Eu já estava pra lá de acostumada com aquilo tudo.

A quase todo o tempo minha atenção estava virada para o céu e as montanhas. O relevo nas estradas de Minas Gerais é realmente bonito de se admirar. Montanhas e mais montanhas, árvores e matagais altos ainda próximos às BRs, rios e suas pontes muitas vezes quebradas por coitados que talvez ali tenham perdida a vida.

Como sempre eu olhava ao redor imaginando em realizar um antigo sonho meu: viajar para um lugar qualquer e ir parando para fotografar todas as vezes em que o relevo me for atraente para um enquadramento. Com certeza a viagem levaria horas. Meu sonho era viajar com alguém que eu gostasse realmente daquela maneira especial, assim poderia apreciar a paisagem em meios de carinhos e palavras doces.

Suspirava ao imaginar que certos quadros seriam únicos e os perdi. “Novos virão”, pensava para me animar.

O estranho é que nessa viagem eu tinha um pouco mais de medo do que o normal, eu imaginava coisas que já deviam ter acontecido naquela estrada. As mortes, os acidentes, as perdas. Daquela vez eu me humanizei e cheguei até a me entristecer ao imaginar as vítimas que a estrada já houvera feito e ainda há de fazer.

“Nada vai acontecer, como nunca acontece, Carol, fica calma”, eu pensava. Por que é melhor se preocupar com acontecimentos depois que eles ocorrem para não ficar sofrendo com a possibilidade de ele acontecer.

Chegando a cidade. “Dessa vez parece ter sido mais rápido”, pensei. Eu estava bastante sonolenta por causa das poucas 2 horas que dormi a noite, me sustentava somente por causa do chiclete de menta que mastigava. “O que seria de mim sem chiclete de ervas?”, já me perguntei várias vezes. Eles que ocupavam minha mente muitas vezes e me deixavam acordada em situações extremamente chatas.

Andamos o dia inteiro. “Olha, até as lojas parecem iguais”, nada parecia ter mudado. As lojas que meu pai costumava ir quando eu ainda era pequena continuavam sendo as mesmas, a correria nas lojas e os empurrões e esbarrões nas ruas os mesmos.

Tudo parecia absurdamente normal, mas talvez eu só tenha pensado nisso depois de uma mudança radical.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E se tudo fosse diferente? - Capítulo 1

Primeio capítulo. :] Já tava escrito há alguns dias, mas só quis postar hoje. Brigada pelos comentários e peço humildemente que continuem a comentar. A história tem um marcador só pra ela, então pra lê o que já tem - e o que vai ter - sobre ela é só clicar no marcador. :]
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_Dormi nada essa noite, mãe.
_Nervosa, Carol?
_Claro que não mãe, eu viajo para BH desde pequena, to pra lá de acostumada.
_É.- ela concordou sem dar muita importância - Já comeu alguma coisa? Até lá vai ser um bom tempo, e você vai ter que andar muito.
_É, vou tentar comer alguma coisa. Sei lá, to com o estômago cheio, coloco na boca, mas nem entrar quer.
_Toma ao menos um leite.
_É, boa idéia.
...
_Tá pronta, Carol?
_Tô te esperando já tem um tempão, pai.
_Pegou tudo que precisa? Identidade, CPF, celular, chave, blusa de frio?
_Jáaaa pai – já ouvira aquele discurso uma porção de vezes.
_Então vamos. Dez para as quatro, estamos adiantados – como sempre, ele marcando hora exata para sair e se sentindo bem por ter conseguido arrumar tudo com tempo de sobra.
_Sim – disse eu olhando para a janela, já sabia muito bem o que estava por vir, era só um quadro se repetindo.
_Vai dormir? Quer que eu deite o banco?
_Eu não consigo dormir pai – já não era a milésima vez que eu falava isso para ele e parecia que até aquele dia ele não tinha conseguido aprender.
Uma viagem costumeira a Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, minha terra natal. Cerca de 350km de distância de Coronel Fabriciano – cidade onde nasci, moro e pretendo não morrer. Meu pai, que já há muitos anos trabalha no ramo de comércio de armarinho, viaja constantemente à capital para manter a loja com seus produtos. Querendo me ajudar no crescimento como gente, para conhecer a capital e para aproveitar o baixo preço das coisas na capital, me levava algumas vezes ao ano. Antigamente, quando tinha uns oito anos, minha animação para viajar era enorme, algumas vezes faltava a aula para acompanhá-lo. Tentava ser prestativa com qualquer coisinha que seja. Carregando seus papéis o tempo todo, entre outras coisas. Foi se a época de criança junto com esse ânimo bobo.
Com o decorrer dos anos, faltar a aula só para viajar se tornou difícil. O ânimo e força para ficar um dia inteiro praticamente correndo pela capital eram escassos, quase extintos. Tornaram-se raras as viagens, uma vez ao ano ou duas. Fazia dois anos que não viajava com meu pai aquele dia. Minha última viagem com ele.