Passaram-se quatro anos desde então. A vida de alguma
maneira continuou. Eu não vivia mais na mesma casa, tinha me mudado para outra
cidade, mas vizinha da qual eu nascera, a imunda Ipatinga. O fizemos para
estarmos mais próximos da família e talvez um pouco mais distantes da dor de
relembrar. Esse seria o quarto aniversário, onde iriamos outra vez ao cemitério
de alguma maneira reviver aquele dia. Exceto que nesse dia eram as tão
aterrorizantes provas do vestibular. Durante algum tempo eu pensei em não ir,
mas depois de conversar com minha mãe e ela me convencer de que era o melhor eu
ir, o meu futuro não esperaria por mim.
_Tenho certeza de que ele sabe que você não se esqueceu dele
um dia sequer – ela me disse enquanto deixava escapar uma lágrima.
Então eu resolvi ir, não no meu melhor estado, com nem todos
os assuntos e tópicos bem estudados, mesmo assim eu fui. E quebrei a ritual daquele dia que nos últimos
anos tinha se tornado uma espécie de tradição para mim. Mal sabia eu o que o
destino reservara para mim aquele dia e para o resto da minha vida. Com todo o
nervosismo usual de uma vestibulanda, de apenas uma adolescente de 18 anos e
tomo o peso da dor que aquele dia me causava, eu cheguei a escola e também a
sala para realizar a prova.
Absorvida em meus pensamentos como estava, foi um requerido alguns
minutos para conferirem minha documentação e me mostrarem onde deveria me
sentar. E por um momento tudo ficou confuso para mim, como ficara há quatro
anos, quando aquelas mãos quentes tocaram o meu ombro, quando o meu anjo
surgira.
Seria ele? Depois de tanto tempo eu não poderia dizer com
certeza, tantas vezes eu já pensara ter o avistado na rua, e sempre me
decepcionada ao constatar que era uma pessoa qualquer. Ele estava muito
diferente, é claro, mas ao mesmo tempo tão igual. Eu queria perguntar se era
ele, se ele se lembrava de mim, se pensara em mim como eu pensara nele todos os
dias depois daquele e mais tarde sempre naquele dia, todos os anos. Eu não
sabia como dizer, se devia dizer. A instrutora de repente me tirou daquele mar
de pensamentos me dizendo:
_É aqui, sente-se, que daqui a um tempo irá começar – e
indicara justamente o lugar atrás dele.
Instruíram-nos a não conversar, enquanto tudo o que eu
queria era gritar e externar tudo o que estava passando na minha cabeça. Já não
estava difícil demais aquele dia como já estava? Ou será que ele estava ali
novamente para ser meu anjo, mas eu passara por ele e ele sequer me notara, não
sei dizer se olhou para mim direito, só sei que não me reconheceu da mesma
maneira que o reconheci.
De alguma maneira inexplicável eu esqueci toda aquela
situação enquanto fazia aquela prova. Parecia-me absurdo eu ainda me focar
naquilo enquanto tanta coisa passava na minha cabeça, fora aquilo eu já tinha
um plano: faria de tudo para acabar a prova o mais rápido possível e esperaria
para sair junto com ele e talvez abordá-lo. É, àquela altura isso era tudo o que eu conseguia
pensar.
Àquelas horas se passaram com o peso de anos. Depois de
terminar a prova, eu começara a pensar no meu plano novamente e me peguei
pensando se haveria a possibilidade de alguém daquela sala está passando pela
mesma situação que eu. “Nem em todo mundo”, eu pensara.
Finalmente ele terminara, ou talvez não tivesse demorado
tanto tempo assim, somente me parecesse já que eu parecia estar surtando cada
vez mais a cada segundo que se passava.
Rapidamente juntei todas as minhas coisas e me levantei apenas alguns
segundos após ele, para entregar a prova e sair. Enquanto eu entregava prova e
assinava os últimos documentos, ele se encaminhava para a porta, eu distraída
com toda aquela situação derrubara um pote cheio de canetas no chão, que fez um
estardalhaço gigantesco e que fez com que todos me olhassem, incluindo ele, que
parou sua caminhada e me olhou por alguns instantes e sorriu. “Será que ele me
reconheceu?”, pensara. E antes de obter minha resposta ele já se virara e fora
embora.
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