sexta-feira, 7 de setembro de 2012

E se tudo fosse diferente - Capítulo 10



Passaram-se quatro anos desde então. A vida de alguma maneira continuou. Eu não vivia mais na mesma casa, tinha me mudado para outra cidade, mas vizinha da qual eu nascera, a imunda Ipatinga. O fizemos para estarmos mais próximos da família e talvez um pouco mais distantes da dor de relembrar. Esse seria o quarto aniversário, onde iriamos outra vez ao cemitério de alguma maneira reviver aquele dia. Exceto que nesse dia eram as tão aterrorizantes provas do vestibular. Durante algum tempo eu pensei em não ir, mas depois de conversar com minha mãe e ela me convencer de que era o melhor eu ir, o meu futuro não esperaria por mim.
_Tenho certeza de que ele sabe que você não se esqueceu dele um dia sequer – ela me disse enquanto deixava escapar uma lágrima.
Então eu resolvi ir, não no meu melhor estado, com nem todos os assuntos e tópicos bem estudados, mesmo assim eu fui.  E quebrei a ritual daquele dia que nos últimos anos tinha se tornado uma espécie de tradição para mim. Mal sabia eu o que o destino reservara para mim aquele dia e para o resto da minha vida. Com todo o nervosismo usual de uma vestibulanda, de apenas uma adolescente de 18 anos e tomo o peso da dor que aquele dia me causava, eu cheguei a escola e também a sala para realizar a prova.
Absorvida em meus pensamentos como estava, foi um requerido alguns minutos para conferirem minha documentação e me mostrarem onde deveria me sentar. E por um momento tudo ficou confuso para mim, como ficara há quatro anos, quando aquelas mãos quentes tocaram o meu ombro, quando o meu anjo surgira.
Seria ele? Depois de tanto tempo eu não poderia dizer com certeza, tantas vezes eu já pensara ter o avistado na rua, e sempre me decepcionada ao constatar que era uma pessoa qualquer. Ele estava muito diferente, é claro, mas ao mesmo tempo tão igual. Eu queria perguntar se era ele, se ele se lembrava de mim, se pensara em mim como eu pensara nele todos os dias depois daquele e mais tarde sempre naquele dia, todos os anos. Eu não sabia como dizer, se devia dizer. A instrutora de repente me tirou daquele mar de pensamentos me dizendo:
_É aqui, sente-se, que daqui a um tempo irá começar – e indicara justamente o lugar atrás dele.
Instruíram-nos a não conversar, enquanto tudo o que eu queria era gritar e externar tudo o que estava passando na minha cabeça. Já não estava difícil demais aquele dia como já estava? Ou será que ele estava ali novamente para ser meu anjo, mas eu passara por ele e ele sequer me notara, não sei dizer se olhou para mim direito, só sei que não me reconheceu da mesma maneira que o reconheci.
De alguma maneira inexplicável eu esqueci toda aquela situação enquanto fazia aquela prova. Parecia-me absurdo eu ainda me focar naquilo enquanto tanta coisa passava na minha cabeça, fora aquilo eu já tinha um plano: faria de tudo para acabar a prova o mais rápido possível e esperaria para sair junto com ele e talvez abordá-lo. É,  àquela altura isso era tudo o que eu conseguia pensar.
Àquelas horas se passaram com o peso de anos. Depois de terminar a prova, eu começara a pensar no meu plano novamente e me peguei pensando se haveria a possibilidade de alguém daquela sala está passando pela mesma situação que eu. “Nem em todo mundo”, eu pensara. 
Finalmente ele terminara, ou talvez não tivesse demorado tanto tempo assim, somente me parecesse já que eu parecia estar surtando cada vez mais a cada segundo que se passava.  Rapidamente juntei todas as minhas coisas e me levantei apenas alguns segundos após ele, para entregar a prova e sair. Enquanto eu entregava prova e assinava os últimos documentos, ele se encaminhava para a porta, eu distraída com toda aquela situação derrubara um pote cheio de canetas no chão, que fez um estardalhaço gigantesco e que fez com que todos me olhassem, incluindo ele, que parou sua caminhada e me olhou por alguns instantes e sorriu. “Será que ele me reconheceu?”, pensara. E antes de obter minha resposta ele já se virara e fora embora. 

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