quarta-feira, 5 de setembro de 2012

E se tudo fosse diferente? - capítulo 8


O mínimo de se esperar da minha parte é esperar nunca mais me deparar com aquele garoto, Matheus, que diz que o tempo cura. Aquelas palavras não saiam da minha cabeça, assim como ele não saia do meu lado, todo o enterro. Eu não o via, mas sabia que ele estava lá, logo atrás de mim, me observando. Alguém me cutucou e me perguntou quem era aquele que tinha aparecido junto comigo. Ninguém o conhecia, uma parte de mim queria acreditar que fora um anjo que aparecera para me consolar. Poderia ser um anjo, já que nunca vira nenhum, na verdade esse tal de Matheus poderia ser qualquer coisa, já que não o conhecia.  Mas eu simplesmente respondi:
_Eu não sei – e não mais me incomodaram me perguntando.
Eu olhava aquela caixa de madeira gelada e fúnebre e pensava no tempo que custaria para me curar, na cura que eu não gostaria de ter, em tudo que eu abriria mão para não ter que passar por aquele momento, tudo o que eu queria é que nada naquilo tivesse acontecido. Quem sabe se eu não estivesse lá com ele? Poderia eu ter sido a causa dessa tragédia? E eu começava a pensar em cada segundo que poderia ter feito diferença, cada segundo que faria com que tudo fosse diferente.
A última palavra tinha sido dita. Aquela caixa de madeira que há horas me encarava para terra foi, para sempre. Ou será que não? Na verdade eu não fazia ideia do que acontece com os caixões e os defuntos. E não conseguia pensar na ideia de que ele estava morto. Ele estava vivo, bem ao meu lado, falando comigo até ser interrompido. Foi aí que lembrei de suas últimas palavras, as quais não falei com ninguém, talvez isso tornasse mais difícil do que já é para todos. Será que ele sabia que aquilo era o fim? Não era possível algo desse tipo. Eu devo ter sonhado com essas últimas palavras dele, afinal, todo aquele dia foi muito intenso pra mim, eu mal tinha dormido e não fazia ideia de como tudo acontecera depois, de como tinha ido parar no hospital e depois no carro, estava tudo tão confuso na minha cabeça.
Aquela confusão me tomou de tal maneira que não reparei que aos poucos as pessoas iam embora. Era um momento embaraçoso, como saber que hora partir? E eu me perguntava se ele sabia. Eu não sabia quando teria que sair dali, e não conseguia imaginar para que lugar poderia ir depois daquilo.
Eu tentava me lembrar dos momentos bons, para quem sabe assim me anestesiar daquela dor, mas daí me lembrei que não haveriam outros. Tudo o que eu conseguia pensar era que eu nunca mais conseguiria ser feliz. Sempre haveria algo faltando. Como eu poderia ousar sorrir de novo com todas essas lembranças às minhas costas? Eu me sentia a primeira e a única do mundo passando por uma situação como aquela.
Hoje lembrando de tudo que passou pela minha cabeça naquele dia me sinto tão estúpida e egoísta e ao mesmo tempo entendo a minha dor. Eu tinha só 14 anos, como poderia saber como lidar? Haveria um manual em algum lugar do mundo? Será que era possível aprender a lidar com aquela situação? Sim, aquela, pois não há palavras suficientes no mundo para explicar isso. Essa dor minha, que só eu senti e mais ninguém, que não é maior ou menor que a de qualquer pessoa, mas que era minha e tinha meu nome e o dele estampado e tatuado para sempre.

Nenhum comentário: