quinta-feira, 6 de setembro de 2012

E se tudo fosse diferente? - Capítulo 9



Eu não o vi ir embora aquele dia, o meu anjo, como o chamava em pensamentos. Ninguém me perguntara sobre ele novamente, por vezes eu começava a me perguntar se ele realmente existira e realmente estivera lá, parecia uma lembrança distante. Os dias passaram, um por um, gostaria de poder dizer como me recuperei, talvez ensinar alguma coisa para você, mas não é possível explicar. Como disse anteriormente, a dor era minha, e ninguém saberia como suportá-la por mim. E se você passasse por exatamente tudo o que passei, ainda não diria que a nossa dor fora igual. As dores são únicas e todas as lágrimas derramadas também.
O tempo foi passando, de alguma maneira inexplicável, pois na minha cabeça tudo estava parado. Demorou um tempo para voltar a escola, demorou um tempo para voltar a vida aos eixos, um termo injusto para mim, já que não há como voltar a nada. Era como pensar em um carro de repente se sentir obrigado a tocar em frente com uma roda a menos. É claro que é possível andar sobre três rodas, existem triciclos, bem como bicicletas e monociclos, mas um carro é feito com base em um equilíbrio de quatro rodas. Parecia-me muito injusto sermos obrigados a viver em três de repente e sermos obrigados a procurar nosso próprio equilíbrio, sabendo que sempre faltaria uma quarta roda, com aquele vazio nos encarando.
Não irei detalhar todo o processo que me levou até aqui, até porque esse não teve data de expiração, só um começo turvo e embaralhado, uma lembrança que a cada dia me parecia mais uma fantasia. Passaram-se dias, semanas, meses e sim, se passaram anos. Aquela data horrível que me marcara fazia aniversários, algo tão injusto a se pensar. As fotos e as memórias já não envelheciam mais, ficariam para sempre como estão, intactas.
Nos aniversários daquela data sempre revivia de novo o que acontecera. Era como se um filme passasse na minha cabeça, e eu não era capaz de mudar uma palavra sequer, lembro-me especialmente das palavras vindas de um completo desconhecido, que nunca mais vira, mas que nunca fora esquecido. “O tempo cura”, ele me disse. Engraçado, eu nunca soube quanto tempo foi necessário, ou se sequer eu me curei. Era tudo uma dúvida, bem como a existência daquele “anjo” para mim. Lembro de ter desejado encontra-lo novamente e conversar. Talvez ele entendesse a minha dor, mas ao mesmo tempo me parecia loucura. Nada mais eu sabia além de seu nome. Quem era aquilo garoto afinal de contas?
Talvez você fique decepcionado ao te dizer que essa não é a história de como perdi meu pai e como superei isso. Não haveria palavras do mundo que pudessem contar essa história. Meu pai foi na minha vida, em toda sua existência, e um bom tempo após ela um protagonista na minha vida. Mas não aqui. 

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