quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rehab


Era só mais uma louca de plantão. Louca mas nem por isso diferente de todos. Começou a beber pelo mesmo motivo que muitos bebem: o amor. Ou melhor, a falta dele, quem não toma um porre depois de levar aquele fora? Ainda como muitos, não conseguiu esquecer aquele amor tão facilmente (claro, nos momentos em que estava sóbria). Achava que ele também a amava e sonhava que ia ser para a vida toda, já imagina o nome dos filhos, a cor do quarto deles, as coisas que o ensinariam. Ela pensara que seria uma paixão ardente e louca pela vida toda que todos teriam inveja, mas tava completamente enganada.
Então resolveu beber um pouco daquele engano, misturando com vodka, é claro pra descer. Engano sozinho é muito amargo. Ainda assim foi difícil de engolir. Tinha ouvido falar uma vez que depois de beber muitas se engolia qualquer coisa então resolveu beber todas, acabou por fumar umas também, depois que perdeu o controle e alguém lhe ofereceu “um experimento alucinante”. Já meio fora de si pensou: “Talvez nas minhas alucinações ele seja meu” e tragou uma vez, não dando certo, resolveu tentar pela segunda, terceira até que perdeu totalmente o controle.
A essa hora a dor de cabeça era tão forte que parecia uma batida Ao invés de se deixar tombar com ela começou a dançar ao ritmo das batidas, a respiração ofegante e o coração partido, é claro. Na sua cabeça cantarola uma música que não saia nem bebendo todas “Ele não te ama, ele não te quer, ele está com OUTRA”. Resolveu parar de tentar esquecer a música e começou a cantá-la aos berros. No começo todos que estavam ao seu redor se assustaram, mas como todos estavam numa situação semelhante à dela acabaram acompanhando.
E a batida continuou e continuou. Acabou topando de frente com um cara que parecia muito com Ele, ou melhor, na verdade era completamente diferente, mas na sua cabeça só havia um e era esse um que enxerga em todos os rostos que via. Pra sua sorte (ou azar) esse Ele gostava dela, acabaram nuns amassos que terminaram na cama dEle (ou melhor, do falso Ele). A noite acabara e a dor de cabeça viera. Percebera o quão divertido fora e o quão bom fora engolir todo aquele engano e se divertir resolveu repetir a dose na próxima noite.
E na próxima e na próxima. Acabou alcoólatra, viciada e metida num relacionamento sem saída com um cara extremamente violento. Por sorte não engravidara, só não sabia o motivo. “Talvez seja vontade de deus eu ser assim sozinha, sem nem um filho que seria preso a mim por obrigação.” Acabou por reparar que os dias passavam lentamente e dolorosamente, mas não havia mais Ele na sua cabeça. Vibrou com o pensamento e foi pegar mais uma latinha de cerveja.
Um dia contou “Eles tentaram me levar para a reabilitação mas eu disso NÃO, NÃO, NÃO! Para quê? Estou muito bem assim, Ele já não me incomoda mais” e tragou outra vez seu cigarro.

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