sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Tempo de brincar, mas de perdas e O violino empoeirado

Mais dois capítulso de A violinista cega, para quem estiver lendo. Para quem não tiver (provavelmente todos HAHA o prólogo está alguns posts abaixo).

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Tempo de brincar, mas de perdas

Nasci em uma cidade pequena, porém, ao meu nascimento e, conjuntamente, a morte de minha mãe, meu pai, procurando melhoria de vida e ajuda para minha criação, fora para cidade grande, onde meus avôs moravam.
Nunca tive a presença de minha mãe, morreu tragicamente ao meu nascimento, que, segundos relatos fora um milagre pelo menos um ter saído vivo, que no caso fora eu. A única coisa que tenho para ter alguma idéia de quem ela é são fotografias, que, como percebem, não tem utilidade alguma para mim.
Desde pequena fui criada pelos meus doces avôs e pelo meu pai, que, na verdade ficava grande parte do seu tempo trabalhando como advogado. Quase não nos víamos, ou melhor, quase nunca ele me via.
Lembro quando minha paixão pelos sons começou, meu avô tinha uma antiga vitrola e alguns LPs de música clássica e também de alguns de blues entre outros.
Minha infância foi marcada pelas músicas que ecoavam naquele pequeno apartamento, que, embora pequeno, habitava muita alegria, eu e meus avôs dançávamos e cantarolávamos, éramos felizes.
Foi nessa época que realmente conheci os sons.

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O violino empoeirado

Um dia, lembro-me, tinha ainda 6 anos, era um dia fresco, passarinhos cantarolavam, a cidade estava agitava, várias buzinas soavam, barulhos de carros, motos, ambulâncias, carros policias, vozes de pessoas de pessoas. Uma sinfonia do caus.
Enquanto brincava com minha boneca e minha avó fazia o almoço meu avô estava arrumando um quarto onde eles guardavam tralhas, coisas velhas, onde nunca entrei pois era empoeirado e bagunçado de mais, o risco de cair no meio daquelas coisas era grande.
Sorridente, abraçava minha boneca quando ouvi meu avô chamando meu nome e o de minha avó:
_Alice, Margaret, venham ver o que eu achei!
Logo eu e minha avó estávamos na porta esperando pelo tesouro encontrado naquela enorme bagunça. Com um estrondoso espirro meu avô saí daquele cômodo anunciando a descoberta:
_Olhe Alice – disse colocando em minhas mãos uma caixa com uma forma estranha – é um violino!
_O que é um violino, vovô?
_Ouça, colocarei para tocar um LP de uma antiga famosa violinista, ela é esplêndida! Você verá!
Então, naquela sala começou a soar um som grave e agudo ao mesmo tempo, um som doce, apreciável, aquilo era um violino.
Então, enquanto apreciávamos aquele maravilhoso som, nos deliciávamos com aquela melodia diferente de todas as outras que já havíamos ouvido, meu avô começou a contar a história daquele violino:
_Ele era do meu pai, seu bisavô, mas ele nunca conseguiu aprender de verdade, era muito preguiçoso aquele rabugento – e riu estrondosamente, conjuntamente comigo e com minha avó.
_Você já tentou aprender, vovô?
_Não querida, nunca gostei muito de tocar, sempre preferi apreciar, e também acho q o violino não combina muito comigo, é preciso ser todo elegante, certinho. E eu sou só... um trapalhão! – e todos voltamos a rir.
_Querido, você se lembra, quando ainda éramos namorados, jovens, e você tentou tocar violino na minha sacada?
_Ah se me lembro, nunca apanhei tanto e levei tantas sapatadas como naquele dia. – e rimos ainda mais.
Ficamos o resto daquela tarde ouvindo aquele LP, dançando, cantarolando, recordando de momentos que nem me lembro mais quais são e também rindo das trapalhadas, dos momentos vergonhosos e das piadas de meu avô. Aquele violino trouxera magia para aquela casa, e, mais tarde, um pouco de tristeza também.
Adorava abraçar aquele violino enquanto ouvia aquelas músicas, era como se fosse uma ligação, era mágico. Logo me apaixonei por aquele som e queria ouvi-lo todos os dias.

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Continua...

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